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Os negros, a construção do Brasil e a luta para a inclusão social

Antes de adentrarmos a qualquer discussão sobre as conquistas dos negros atualmente na sociedade, é essencial que remetamos aos primórdios de sua história de martírios, escravidão e lutas. Foi pelas mãos destes seres humanos, em situação humilhante de escravidão, que as riquezas de muitos países europeus e da América e, em especial do Brasil afloraram.

Os negros prestaram serviços escravos, obrigatórios, gratuitos, forçados e em condições subumanas, com maus-tratos por séculos, nas lavouras, nos garimpos, nos transportes de cargas e em qualquer outra atividade que precisasse de mão de obra. Assim foram esculpindo uma grande parte da história econômica e social deste país.

Quando libertos, no final do Segundo Império, em 1988, foram eles que enfrentaram, ainda, o grande problema de serem postos em liberdade sem o mínimo de planejamento, sem emprego, sem terra, sem assistência social ou qualquer coisa que garantisse a sua sobrevivência nas periferias para onde foram empurrados.

Este tratamento, do Estado Brasileiro e de suas elites, dado aos negros, imigrantes forçados, não foi o mesmo aplicado aos outros povos que o Brasil recebeu, como japoneses, italianos, portugueses, holandeses, espanhóis, etc. Em muitas dessas colônias, houve financiamento e mesmo doação de terra para que pudessem se estabelecer e produzir.

É importante salientar, novamente, que o comércio de escravos não representou ganhos econômicos apenas para os países americanos, mas foi uma excelente alternativa econômica para a Europa e trouxe muitos lucros para os europeus.

Parte dos países do mundo e o Brasil têm uma enorme dívida para com os negros, pois sacrificaram gerações com trabalho escravo para garantir, absurdamente, uma vida de luxo de povos europeus e de elites brancas. Muitos deles perderam suas linhagens familiares e suas origens religiosas e culturais em tráficos de escravos pelo mundo ou mortos espancados em troncos nos pátios das senzalas, sob o olhar religioso de homens cristãos, que piamente acreditavam que todos eram filhos de Deus.

Atualmente, pressionados pelos movimentos sociais, que felizmente incluem grande parcela da população branca, vários programas do governo, abrangendo bolsas e cotas em universidades, tentam ressarcir parte desta dívida e inseri-los de vez, com respeito e dignidade, na sociedade.

O dia da consciência negra deveria ser um dia de tomada de conhecimento da sociedade brasileira, na qual os negros e seus descentes são mais de 50%, e lutarem juntos para uma nação mais justa com oportunidades iguais para todos, independentemente da cor da pele, mas centrada na consciência de que há uma dívida social para com eles.

Cícero J. Silva

professor da rede estadual de ensino, ambientalista, pós-graduado em Perícia Ambiental, colaborador da https://www.geledes.org.br/.

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