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Chovendo no molhado?



Recentemente, um amigo comentou que lia meus artigos mas fez uma observação: chove no molhado. Ato contínuo, “corrigiu-se” afirmando que muita gente desconhecia os diversos assuntos abordados e que valia a pena ler a coluna semanal no jornal para se informar.

Fiquei remoendo aquela observação e me perguntando se a observação não procederia. Afinal, os leitores são soberanos, não possuem a mesma cultura e formação nem comungam da mesma visão sobre os vieses da vida. Nenhuma surpresa, portanto.

Afinal, apenas 8% das pessoas em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números, segundo o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional). Assim, o que se esperar - em termos de compreensão e análise - de uma população mergulhada em desigualdades socioeconômicas históricas no país?

E como sobreviver diante da conjuntura brasileira que se encontra em um quarto escuro onde muitos tateiam e outros tantos fazem zunir as lâminas?

Analistas de todos os matizes têm se debruçado sobre os agudos temas que estamos a enfrentar colocando – ou tentando colocar - suas luzes em uma polarização política que se derrama no vale jurídico e econômico. São profissionais cujas matérias vão muito além da mera análise, formadores de opinião que são. Em que medida?

Vivendo um ano de incertezas crescentes, vale lembrar aqui oportuníssima frase do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana: “É graças a Deus que o Brasil tem saído de situações difíceis. Mas, graças ao diabo, é que se mete em outras.” Quem estaria de plantão?

O triunvirato política/economia/judiciário está no olho do furacão. E no fio da navalha, as eleições de outubro. O carnaval que se anuncia com blocos na rua, bailes de máscaras, carreatas, porres de blá blá blá para confundir os 92% que ouvem, mas não escutam, olham, mas não enxergam, está pronto para rasgar a fantasia.

Talvez o meu amigo lá do primeiro parágrafo tenha razão. No entanto, se já estamos molhados, talvez Quintana - nos olhando lá de cima - possa torcer pelas graças de Deus. Mas de olho no seu rival que está animado. Que ninguém duvide.


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