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Em Holambra, população idosa cresceu 40%



Hoje, 1º de outubro, é o Dia Internacional do Idoso; envelhecimento da população exige mudanças

O Brasil já superou, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a marca de 30 milhões de idosos e a expectativa é que em 2031 o número de idosos ultrapasse o de crianças entre 0 e 14 anos, levando o país a ter a quinta maior população de idosos do mundo. E Holambra segue na mesma direção: por aqui, segundo a Fundação Seade, a população idosa cresceu cerca de 40% nos últimos seis anos e este envelhecimento da população exige, principalmente da administração pública, planejamento para atendimento das demandas e adequação e ampliação de serviços públicos nas mais diferentes áreas.

Na saúde, por exemplo, pacientes com 60 anos ou mais representam 24% dos atendimentos e as doenças mais comuns, segundo o Departamento Municipal de Saúde, são hipertensão, diabetes, sobrepeso/obesidade, dores articulares, déficit de memória, anemia e hipotireoidismo, além do risco de quedas e do uso indiscriminado de medicação.

A socialização também tem grande impacto para esta população e o Fundo Social de Solidariedade tem promovido atividades diversificadas para atender a demanda. O grupo Reviver reúne 125 participantes (25 homens e 100 mulheres) com idades entre 60 e 96 anos. Os integrantes têm à disposição aulas regulares de dança, alongamento, bordado, artesanato, coral e hidroginástica.

Passeios, festas em datas especiais, participação dos Jogos Regionais do Idoso (Jori) e bailes também fazem parte da programação e os frequentadores também têm à disposição os cursos gratuitos da Oficina de Oportunidades. “Com o passar dos anos, além das aulas regulares - como alongamento, bordado e artesanato - foram inseridas palestras, passeios e almoços especiais para que o grupo possa fortalecer laços de amizade e sair da rotina. Além disso, algumas atividades passaram a ser adaptadas às necessidades dos integrantes e outras iniciativas surgiram diante da demanda. Para quem tem dificuldades de permanecer muito tempo em pé, por exemplo, são oferecidas aulas de dança realizadas em cadeiras”, explicou Diva de Souza Godoy, presidente do Fundo Social.

Integração da Terceira Idade

Durante quatro anos, de 2014 a 2017, a doutora em Serviço Social, gerontóloga e professora da Puc-Campinas, Jeanete Liasch Martins de Sá, promoveu um trabalho de extensão, através de convênio da faculdade com a Agemcamp, que buscou atender a demanda da Região Metropolitana de Campinas no que se refere à questão do envelhecimento e à necessária inclusão e atenção à Terceira Idade. Holambra, uma das 20 cidades que compõem a RMC, marcou presença em dois momentos, em 2014 e 2016, através da participação nas Oficinas de Capacitação, voltadas às assistentes sociais vinculadas à Secretaria Municipal e ao CRAS. Sobre as diferenças do idoso de 'ontem' para o idoso de 'hoje', Jeanete explicou que os idosos de ontem eram portadores de princípios morais rígidos, fundamentados no cristianismo e na moral pessoal e buscavam o respeito à dignidade da pessoa humana, à família e suas bases. Já os “novos velhos” são aqueles que fazem parte da chamada ‘geração televisão’..Confira reportagem completa:

Jornal da Cidade: O que difere o idoso de 'ontem' do idoso de 'hoje'?


Professora Jeanete: Os idosos de ontem, que vamos chamar de “velhos velhos”, muitos dos quais, graças à longevidade, ainda estão vivos, eram portadores de princípios morais rígidos, fundamentados no cristianismo e na moral pessoal e buscavam o respeito à dignidade da pessoa humana, à família e suas bases. Reafirmavam a vocação suprema da mulher no domínio doméstico, como esposa e mãe de família. O contexto em que foram formados tinha a influência do existencialismo, reforçado pela conjuntura política, especialmente do Estado Novo, com uma liderança carismática, mística e paternalista. Tiveram participação efetiva no processo da industrialização e urbanização no nosso país. As famílias tinham um alto índice de fecundidade: um pouco mais de seis filhos por casal. Viveram num mundo em tensão com a influência do período Modernista, a emergência de novas concepções estéticas, a relação entre o novo e o velho, o sagrado e o profano. Experimentaram o conflito de gerações e a rebeldia dos jovens, na década de 60, esses que são os idosos de hoje.

Já os “novos velhos” são aqueles que fazem parte da chamada "geração televisão" – que padronizou usos e costumes, da "geração coca-cola", das comidas rápidas , dos cinemas, dos discos, das calças jeans .Na juventude, questionaram o status quo, desafiaram a autoridade, considerando os pais "caretas", buscaram a liberdade sexual, adotaram filosofias alternativas como os hippies, continuaram seus estudos depois da escola secundária mais do que qualquer geração anterior. Enquanto jovens adultos, viveram incertezas quanto a valores pessoais, adotando novos estilos de vida. Quando jovens profissionais, trocaram filosofias anteriores pela escalada econômica, com metas cada vez mais materialistas. A imagem hippie dos anos 60 foi substituída pela yuppie dos anos 80. Ao constituírem família, experimentaram o trabalho da mulher fora do lar. Casados e com filhos, passaram a assumir responsabilidades cada vez mais "adultas".Hoje, muitos estão no segundo casamento, experimentando novos arranjos familiares e afirmam dedicar mais tempo aos filhos do que seus pais o fizeram. Estão investindo no seu envelhecimento de maneira diferente de seus pais e avós, uma vez que são os beneficiários dos avanços nas biociências. Os “novos velhos” se apaixonam, namoram, passam a ter um desempenho sexual acentuado em idades mais avançadas. Voltam a estudar, desempenham trabalhos voluntários, continuam trabalhando depois de aposentados em tempo integral, parcial ou com contratos mais flexíveis. O lazer já não é a única forma de passatempo. O idoso de hoje é menos dependente da família, assumindo o papel de chefe. Observa-se um processo de “empoderamento” gradativo dos idosos brasileiros, em razão dos benefícios previdenciários e dos ativos acumulados durante a vida, o que torna a sua renda mais estável. Ele apresenta aumento no poder de consumo, com a aquisição de bens como a casa própria e o carro. Poderíamos afirmar que dos pobres, o idoso é o menos pobre, estando em melhores condições do que o jovem. Enfim, o idoso de hoje está liderando uma mudança social de grande porte, na condição de agente social.

Jornal da Cidade: A senhora fez um trabalho com a Terceira Idade na RMC, correto? Qual era o objetivo deste projeto?

Professora Jeanete: Realizamos, durante quatro anos, no período de 2014 a 2017, um trabalho de extensão, através de convênio PUC Campinas e AGEMCAMP na região Metropolitana de Campinas, buscando atender à demanda dessa importante região no que se refere à questão do envelhecimento e à necessária inclusão e atenção à 3ª. Idade. A RMC já atingiu, segundo a Fundação Seade, 436.505 pessoas com 60 anos para mais, sendo 192.570 homens e 243.935 mulheres. Verificamos então, a necessidade de capacitação dos administradores e dos profissionais incumbidos da formulação/implantação/implementação de programas, projetos e ações voltados aos idosos nos municípios. O trabalho resultou na efetivação das políticas sociais voltadas para o idoso, através da elaboração e implantação de projetos conforme as demandas locais, além do efeito multiplicador que permitiu atingir outros grupos, profissionais e idosos, com eventos que permitissem replicar o conteúdo trabalhado nas oficinas de capacitação. Além dos profissionais ligados às secretarias municipais de assistência, participaram representantes dos CRAS, CREAS, Centros-Dia e Conselhos Municipais do Idoso, tanto do poder público quanto da sociedade civil. Atualmente estamos desenvolvendo um Projeto de Extensão com a Prefeitura Municipal em Campinas, no sentido da capacitação sociogerontológica para o trabalho em rede municipal e intersetorial voltado para a população idosa.

Jornal da Cidade: Qual a importância de projetos voltados a este público? E quais as áreas que exigem mais cuidados e mudanças?

Professora Jeanete: Os projetos voltados para esse público são de fundamental importância em todas as áreas, através das políticas públicas, consubstancializadas através de programas, serviços e benefícios, tidos como direitos de cidadania. A atenção ao idoso deve ser integral.

Jornal da Cidade: Quais os desafios da rede pública para garantir a qualidade de vida da Terceira Idade e, também, para atender um país que, conforme pesquisas, está envelhecendo?

Professora Jeanete: Os desafios são de diversas ordens. Apesar da criação das leis de amparo à velhice, pouco se caminhou no sentido da viabilização do exercício dos direitos assegurados por estas leis e no acesso a diferentes serviços, bens e oportunidades. A atuação governamental efetiva ainda é precária e grande parte das iniciativas de caráter privado teima em se manter no assistencialismo. Com isso, fortalece-se o isolamento do idoso.

As Políticas Municipais do Idoso não são devidamente formuladas, a partir de um diagnóstico específico e da articulação com as políticas municipais da assistência social, da saúde, educação, cultura, habitação, segurança, esportes e outras. Na maioria dos municípios há grande demanda por parte dos idosos em relação aos equipamentos públicos principalmente na área da saúde e da assistência social, o que resulta em fila de espera para o atendimento, que é muitas vezes emergencial. A sobrecarga de trabalho dos profissionais é grande e o atendimento ao idoso acaba prejudicado. A fragmentação no atendimento por parte da rede pública de atenção ao idoso em todas as áreas é outro elemento a ser considerado.


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