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A Injusta Mega-Sena



A Mega-Sena deste último fim de semana pagou o prêmio de R$ 289 milhões a um único ganhador. Foram muitos milhões os perdedores vendo seus sonhos desfeitos neste que é um país com desigualdade social do tamanho de seu território.

País que pode se dar ao luxo de, através de um jogo, premiar apenas uma pessoa tornando-a multimilionária da noite para o dia, por sorte. Hipocritamente, os jogos de azar estão proibidos no Brasil, por lei, desde 1946. E curiosamente a expressão “jogo de azar”, para efeitos penais, é definida como sendo “o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusivamente ou principalmente da sorte”. É contravenção penal determinada pelo Decreto-lei 3.698/41, Lei das Contravenções Penais, no artigo 50, parágrafo 3º. Então, com a Mega-Sena, eufemismo ou contorcionismo?

O Brasil real está no grupo de cinco nações - entre 29 países desenvolvidos e em desenvolvimento - onde a parcela mais rica da população recebe mais de 15% da renda nacional (de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento IPC-IG/PNUD). Assim, o 1% mais rico do Brasil concentra entre 22% e 23% do total da renda do país. E o ganhador da Mega-Sena da semana, “por sorte”, já está admitido no seleto clube do 1%...

O mais triste é que este é um país onde seis em cada dez crianças e adolescentes vivem na pobreza, como aponta um estudo divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Levantamento que considera não apenas a renda insuficiente das famílias como uma das faces da pobreza, mas também situações de privação de direitos.

Enquanto isso, além do sortudo em questão, foram apenas 838 os ganhadores da Quina e 56.994 os da Quadra com prêmios “merrecas”. Número de apostadores, 18.5 milhões de sonhadores. Premiados entre estes últimos: 0,003%. Desperdício de oportunidade!

Como conformar-se, então, que através de jogos patrocinados por uma instituição financeira (CEF), sob a forma de empresa pública, com patrimônio próprio, autonomia administrativa e lucro líquido contábil de R$ 10,355 bilhões em 2018 se permita apadrinhar jogos com distorção financeira tão aberrante em um país com tantas mazelas declaradas?

Fechando a cortina: a arrecadação total para o concurso foi de R$ 442.589.014,00 e (1) o prêmio bruto equivaleu a apenas 43,35% do total e (2) o destino dos 56,65 % restantes foi para entidades como – entre muitas – Seguridade Social, Fundo Penitenciário Nacional, Comitê Brasileiro de Clubes, Comitê Olímpico Brasileiro, Fundo Nacional de Segurança Pública, Fenaclubes.

A ponderar!

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