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Múltiplas tarefas de mães na quarentena

Redução de jornada não significou diminuição de trabalho: muitas tiveram de conciliar trabalho fora com tarefas em casa Se muitas mulheres já tinham jornada dupla ou tripla antes da quarentena, o trabalho aumentou nos últimos meses:


muitas tiveram de conciliar o trabalho fora com os cuidados com os filhos (incluindo as lições escolares) e afazeres da casa (cozinhar, limpar, lavar, passar). Algumas, felizmente, contam com a ajuda de familiares, dos maridos e dos filhos para a execução de tantas tarefas acumuladas.


Carolina Diaz tem dois filhos (de 3 e 5 anos) e desde o início da quarentena sua jornada presencial foi reduzida para meio período. Além deste trabalho, ela também é artesã “nas madrugadas”. Se tem um lado bom, ela aponta: passou a ter mais tempo para ficar com os filhos, o que sentirá falta quando tudo voltar ao normal. “Estou curtindo muito a companhia deles e a minha casa”, disse, ao destacar que seu marido trabalha período integral e as crianças ficam com seus pais quando ela vai para o trabalho.

No dia-a-dia, Carolina tenta fazer o melhor e optou por não se importar tanto com a bagunça. “No começo, o tempo na TV aumentou bastante. Então voltei a controlar e começamos a fazer mais atividades no jardim e até comemos mais bolos na quarentena”, brincou. Mesmo atenta, ela acredita que se sentir culpada é normal, principalmente “por alguns gritos que escaparam e até pela preguiça, em alguns dias, para pensar na comida”. Virgínia Marcela dos Santos também tem dois filhos: João Henrique, de 15 anos, e Dom, de um aninho. Há 16 anos trabalha como assistente administrativo em uma produção de rosas e, nos últimos sete anos, fez um curso de designer de sobrancelha para conseguir uma renda extra ou para hobby.

Com a quarentena, passou a trabalhar com jornada reduzida no sítio e reservou dois dias para atender em um salão, e passou a contar com mais tempo para acompanhar os filhos. “O João estuda na ETEC de Mogi Mirim (online das 13h às 18h20) e duas vezes na semana faz inglês (voltou para presencial)”. O mais novo vai para a casa de seus pais pela manhã e volta para casa quando Virgínia encerra o expediente no sítio (ou só à noite quando ela vai para o salão). “Meu marido trabalha até as 18h em outra cidade, portanto espero ele chegar pra cuidar do pequeno, enquanto faço o jantar. Os dias que fico até tarde no salão, minha mãe me salva com o jantar. Mantemos a casa em ordem no meio da semana e tenho uma pessoa que me ajuda a cada 15 dias”. Ela disse que não enfrenta problemas envolvendo uso excessivo de eletrônicos e sua maior preocupação resume-se ao contágio da doença. “Eu tenho contato com muitas pessoas e meu maior medo é levar o vírus pra dentro de casa ou pra casa dos meus pais, que são idosos. Gostaria que as pessoas fossem mais conscientes e respeitassem mais o distanciamento social. Elas vem pra nossa cidade como se nada estivesse acontecendo, fazendo o vírus circular”. Por fim, completou: só se sentiria culpada se não tivesse tempo para os filhos. “Lógico que fico super cansada alguns dias, mas nada como uma noite de sono”.

A confeiteira e boleira Juliana Fernanda Dilbernn do Prado precisou criar uma nova organização para trabalhar em casa. “A vida doméstica passou a ser mais difícil, especialmente quando as escolas suspenderam as aulas”, disse, ao informar que tem três filhos em idade escolar (Matheus de 18 anos, Miguel de 9 e Davi de 8). “Com o isolamento forçado e as crianças em casa, não está sendo fácil. Tenho que me reinventar na cozinha o dia todo, pois ficam todos ansiosos e preciso pensar em atividades para eles. Então me desdobro e tento me dividir ao máximo. Mesmo assim, há dias em que não dou conta e neste momento peço ajuda para meu marido”.

Ela apontou que sua rotina já era “uma loucura” e, agora, tem sido ainda mais complicada. “O que antes era lição de casa passou a ser tarefa diária e nós, que não somos professores, muitas vezes ficamos perdidos”, exemplificou. Ela completou que passou a trabalhar dobrado: além de cozinhar e limpar, precisa planejar, coordenar e antecipar as necessidades de todos da casa. “Há dias em que não dou conta de tudo. É bem cansativo, difícil trabalhar com as crianças em casa, mas a gente tem tentado balancear as demandas entre trabalho, bolo no forno e brincadeiras para as crianças”.


A enfermeira Patrícia Teixeira Dario tem uma filha de três anos, Lavínia, e sua rotina mudou com a pandemia: ela era responsável pelo ambulatório de obesidade do hospital de Jaguariúna e, desde março, os atendimentos presenciais foram suspensos. “No final de março as mudanças passaram a ser mais extensas e com o aumento gradativo dos casos de Covid, fui remanejada para o trabalho nos leitos de enfermaria e UTI de Covid. E então vem uma mistura de sentimentos: o medo de uma doença nova e da transmissão para os familiares, principalmente para minha filha, mas também felicidade e orgulho pela profissão”. Com esta mudança, a nova carga horária de trabalho coincidiu com a suspensão das aulas. “Trabalhar fora com criança em casa se torna muito difícil e desgastante, tanto para os pais como para as crianças. A rotina delas também já não é mais a mesma, tudo mudou. Sentem falta dos amigos, da escola, das atividades”.

Ela e o marido contam com o auxílio de seus pais, além de Lavínia também receber os cuidados de tias e madrinha. “Mas nos dias em que estou em casa, tento planejar alguma atividade ao ar livre, como piquenique, andar de bicicleta ou de patinete, pinturas, colagens, desenhos. Precisamos nos reinventar como mães, porém nem sempre é possível conseguir conciliar tudo e ainda cuidar dos afazeres domésticos”. Para Patrícia, o que causa frustrações ou até mesmo um sentimento de culpa é permitir, neste período, o que antes era proibido: mais tempo em frente à televisão. “Mas precisamos ser positivos, ter fé e acreditar que dias melhores virão”.

Helga Vilela






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