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Pequeno produtor dribla crise sem auxílio do governo


Associados da Aafhol destacam dificuldade de financiamento específico para agricultura familiar



Num primeiro momento, as incertezas transformaram produção em adubo e, depois, o problema era o que fazer com as safras futuras. Aos poucos, cientes das dificuldades que enfrentariam com a pandemia, os produtores de flores de Holambra foram adequando a produção. Mas a situação pode ser ainda mais difícil para os pequenos produtores que, neste momento, não têm acesso a financiamentos para atender a atual situação.


A Associação de Agricultura Familiar de Holambra (Aafhol) reúne 12 associados: a produção é diversificada e totalmente em vaso, segmento que sofreu um pouco menos com a pandemia. O presidente da Aafhol, Valdir Ramos de Almeida, destacou que a primeira iniciativa foi a adequação dos custos com a produção, numa tentativa de manter os colaboradores – ação que foi inevitável com o passar dos meses – e, ainda hoje, quatro meses após o início do isolamento social, os pequenos produtores ainda não tiveram acesso a financiamentos acessíveis. “Conseguir recursos (com agências bancárias) é mais difícil para a agricultura familiar, pois é preciso dar garantias”, resumiu.


Sem conseguir recursos e com ‘tudo parado’, a alternativa foi a demissão de alguns colaboradores, gerando impacto em toda a cadeia. Segundo a Aafhol, as linhas de crédito convencionais não atendem o pequeno produtor devido aos altos juros e as linhas anunciadas pelo Governo Federal não estão disponíveis. “Ninguém quer nada de graça, mas queremos ajuda que atenda este momento, com juros que caibam no bolso, pois esse dinheiro é para a produção e para gerar emprego”, destacou o associado Adilson Maceno Machado, ao pontuar que apesar dos anúncios feitos pelo governo, os bancos seguem com as linhas de crédito convencionais. “No geral, muitos comércios estão fechando porque não conseguiram acesso a recursos, dependiam 100% da venda diária e ficaram um período grande fechado. Se o recurso estive disponível, alguns conseguiriam passar por esse momento”, comparou Maceno, ao completar que mesmo sem restrições de crédito, os associados ainda não conseguiram acesso a financiamentos com juros acessíveis.


O presidente da Aafhol frisou a necessidade de se encontrar uma saída para os produtores de flores, “que são os que mais empregam por metro quadrado”. “No começo não vendemos nada, jogamos fora a produção. Melhorou com o Dia das Mães, mas a situação ainda está difícil para quem produz flor de corte”. Vale reforçar que a Aafhol não conta com associados que produzem flor de corte, mas eles apontaram que a dificuldade de um setor afeta toda a cadeia produtiva. “Melhorou para planta ornamental. No meu caso, crisântemo em vaso, vendo para cemitérios e decoração. Sem eventos e com tudo fechado, as vendas caíram”, resumiu o produtor e secretário da Associação, Antônio Carlos da Silva, ao acrescentar que as vendas melhoraram um pouco após as primeiras semanas de pandemia e optou, a partir de conversas com seus clientes, por manter o preço do produto.


Cooperativas

Cerca de 80% da produção da Aafhol chega até o consumidor final a partir do Veiling – os demais 20% são através de outras cooperativas, como a Cooperflora. Os associados reconheceram os esforços das cooperativas desde o início da pandemia, o que garantiu um pouco de tranquilidade aos pequenos produtores. “Com a pandemia, nem teríamos outra alternativa para chegar até o consumidor, pois estava tudo fechado. E desde o início, o Veiling fez de tudo para ajudar o produtor”. A Aafhol reforçou que a situação pode ter melhorado um pouco, mas “não voltou ao que era”: a recuperação das plantas de cortes depende de eventos e as melhores vendas (vasos e ornamentais) chegam a 60% do que era antes. “E a gente não reclama, porque está tudo parado”, disse Maceno ao pontuar que, no seu caso, a garantia de pagamento é o Veiling.


Geral

A agricultura familiar emprega cerca de 10 milhões de pessoas, das 15,1 milhões que trabalha no setor agropecuário brasileiro, segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ela tem participação importante entre vários dos produtos mais consumidos no país. Entre eles, o café e banana (cerca de 48% em cada), mandioca (80%), abacaxi (69%) e feijão (42%), de acordo com números do IBGE. Neste momento de pandemia, a Aafhol acredita que as incertezas são de todos os produtores, não apenas dos pequenos. “Produtores de grãos podem estar numa melhor condição, mas as dificuldades são gerais e dependemos da evolução de um tratamento para o vírus para que a situação melhore. Enquanto isso, as vendas podem crescer e diminuir, acompanhando o ritmo da doença”.

Helga Vilela

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