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“Violência doméstica está enraizada”

Levantamento nacional ilustra cenário regional: mais de 27% das mulheres sofreram algum tipo de violência no último ano

Helga Vilela

Nas últimas semanas, relatos de mulheres que foram vítimas de violência - dentro ou fora de casa, por conhecidos ou desconhecidos – ganharam destaque na mídia. Mas apenas uma pequena porcentagem de histórias que envolvem violência contra a mulher vem a público. Muitas vítimas temem as consequências de uma denúncia e seguem em silêncio. Por outro lado, quando uma vítima conta sua história, outras se sentem encorajadas a denunciar seus agressores.



A delegada de polícia titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Mogi Guaçu, Juliana Belinatti Menardo, explicou que casos de repercussão incentivam a denúncia desse tipo de crime porque “são de extrema violência e a vítima, temerosa, tende a denunciar como forma de se proteger”. E os números podem assustar: segundo levantamento divulgado no final de fevereiro pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 27,4% das mulheres do país sofreram algum tipo de violência ou agressão no último ano. Quase 80% dessas agressões foram praticadas por um conhecido, como cônjuge,ex-companheiro ou até vizinho. E cerca de 40% das agressões aconteceram no interior do próprio lar. Menos da metade das mulheres procuram algum tipo de ajuda para a violência sofrida.



De acordo com a delegada Juliana, esses índices refletem a realidade da região. “A violência doméstica está enraizada também na nossa região e e todas as classes sociais, idade e escolaridade”, reforçou. Em Holambra, as vítimas dessa violência são atendidas pela delegacia local, salvo quando a ocorrência é emergente e ocorre durante feriados e período noturno: nesses casos, elas são direcionadas para a Delegacia de Jaguariúna. “Geralmente, o que leva a mulher a denunciar tais atos de violência é quando ela sente que sozinha não pode mudar a situação e busca proteção no Estado. E, em contrapartida, o que a impede de denunciar à polícia é quando ela sofre ameaças por parte do agressor que alega que, se tomar conhecimento de alguma denúncia, a violência vai piorar”. Mas, em alguns casos, algumas vítimas voltam atrás de suas denúncias e, de acordo com a delegada, isto ocorre quando são novamente ameaçadas ou quando se reconciliam com o agressor.

Ainda de acordo com o levantamento do FBSP, quando se trata de assédio, como cantadas, comentários desrespeitosos ou assédio físico no transporte público, os números são maiores: 37,1% das mulheres entrevistadas disseram ter passado por alguma dessas situações nos últimos doze meses. Em valores absolutos, são mais de 4,6 milhões de mulheres que sofreram uma agressão física (batidão, empurrão ou chute) propriamente dita no Brasil no último ano. O que dá, em média, 536 mulheres por hora. Para violências de qualquer tipo, são 16 milhões de mulheres -1.830 por hora. “A mulher pode sofrer violência física e psicológica, bem como violência sexual e moral”.

Mudar este cenário, disse a delegada, exige a adoção de políticas públicas que visem um trabalho de equipe multidisciplinar: para que o problema seja resolvido em sua essência, é preciso um tratamento voltado à vítima e, também, ao agressor e, assim, “cessar a cadeia de violência doméstica

instalada dentro do lar familiar”. “Apesar de alguns avanços, a mulher continua sendo vista por alguns homens, os agressores, como objeto. Os índices de violência doméstica em aumento só demonstram que ainda não há igualdade, de fato, entre homens e mulheres”, completou.


Levantamento

O levantamento foi feito pelo Datafolha nos dias 4 e 5 de fevereiro de 2019. Ao todo, 2.084 pessoas foram entrevistas, entre homens e mulheres, em 130 municípios de todas as regiões do Brasil. A margem de erro para o total da amostra nacional é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. As perguntas eram voltadas a situações enfrentadas pelas mulheres nos últimos 12 meses – abordando qualquer tipo de assédio, agressão, espancamento, ameaças e ofensa sexual.

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